As infecções hospitalares podem apresentar sazonalidade?

As infecções hospitalares podem apresentar sazonalidade?

Há muito se afirma que as infecções hospitalares não se relacionam com mudanças climáticas. Este estudo pode ter colocado em cheque este paradigma?

Pode o clima impactar no risco de infecções de sítio cirúrgico?

O impacto do clima e estações nas infecções associadas à assistência à saúde foi recentemente sugerido por alguns estudos. Esse achado acrescentou novos determinantes para a epidemiologia das IRAS, com possíveis implicações para a prevenção e controle de infecções. No entanto, a maioria dos estudos realizados até o momento que abordam essa associação foram realizados em hospitais localizados em regiões com clima temperado. O que já se sabe é o fato de haver uma maior incidência de infecções gram-negativas associadas à proximidade do equador, onde as temperaturas são maiores.

Como o estudo foi desenvolvido?

O estudo foi realizado em um hospital de ensino, de grande porte, localizado no interior do Estado de São Paulo, Brasil, no período 2011-2016. Na instituição, há controle do clima nas salas cirúrgicas e unidades de tratamento intensivo. Dados demográficos, tempo de admissão à cirurgia, classificação da ferida e especialidade cirúrgica foram registrados. A temperatura média diária e a umidade relativa, assim como a precipitação, foram coletadas. Os dados sobre ISC, tanto no hospital quanto após a alta, foram obtidos por meio de vigilância ativa. A partir de 36.429 pacientes pesquisados de 13 diferentes especialidades cirúrgicas, obteve-se uma incidência geral de ISC de 8,4%.

Mas há realmente relação entre clima e temperatura no risco de infecções de sítio cirúrgico?

No estudo realizado, houve um aumento no risco individual de ISC associado com temperatura e umidade médias no dia em que a cirurgia foi realizada. Não houve maior incidência de ISC em meses ou estações específicas. O efeito da temperatura foi mais concentrado em procedimentos de ferida limpa (P = 0,03), a associação com umidade alcançou significância marginal para feridas potencialmente contaminadas (P = 0,05). No geral, o impacto da temperatura no risco de ISC aumentou quando os valores foram dicotomizados nos percentis 75 (P = 0,02) e 90 (P = 0, 005). Encontrou-se um aumento de 1,3% no risco individual de ISC por cada grau celsius de aumento da temperatura média no dia em que a cirurgia foi realizada. Esse aumento chegou a quase 20% quando a temperatura era maior que 24,7°C.

O que ainda precisa ser elucidado?

Várias dúvidas permanecem sobre os mecanismos subjacentes à associação entre verão (ou altas temperaturas) e ISC. Correlações tem sido feitas à cerca de uma maior incidência de infecções da pele e tecidos moles durante períodos mais quentes e mais úmidos. Aumentos na população bacteriana, contato pele a pele, ruptura do tegumento e feridas traumáticas durante o verão tem sido descritos.

Um estudo americano sugere que a transpiração excessiva associado a higiene ineficiente da pele tem ocorrência mais provável durante o verão, podendo ocasionar maior risco de infecção. Mudanças na microbiota da pele desempenham papel importante no aumento do risco de ISC. No entanto, a tendência para uma associação entre maior umidade, incluindo chuvas, e infecção em feridas limpas e contaminadas permanece intrigante.

O que os autores concluíram?

Em conclusão, encontrou-se uma associação consistente entre temperatura e risco individual de ISC. Essa associação se concentrou em procedimentos de ferida limpa e foi especialmente forte para valores extremos de temperatura. De qualquer forma o estudo necessita ser confirmado em outras instituições, mas apresenta indícios para mudanças em paradigmas importantes na epidemiologia das infecções hospitalares.

Fonte:  CCIH

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