Segurança do paciente: O protagonismo do profissional de enfermagem

segurança do paciente é um propulsor de mudanças significativas na assistência à saúde, que impactam todos  pacientes, instituições de saúde e as diversas categorias profissionais envolvidas no cuidado.

O contexto

O movimento da Segurança do Paciente, no que seria o modelo mais próximo ao que conhecemos hoje, começou em 1999, com a publicação do agora histórico relatório Errar é Humano, pelo então Institute of Medicine, nos Estados Unidos. Pela primeira vez, ficaram claros em números a extensão e a gravidade dos danos que a assistência à saúde pode causar.

Desde então, uma revolução foi colocada em curso – às vezes, não na velocidade com que gostaríamos, é verdade. Mas as mudanças são irreversíveis e irrefreáveis. Somos testemunhas da transformação na concepção de valor na saúde, que está levando à busca de modelos de cuidado centrado no paciente e, em última instância, à alteração nas formas de remunerar os hospitais pelos seus serviços. Não há mais espaço – nem recursos financeiros – para desperdícios e ineficiência. A segurança do paciente está se tornando um pilar essencial à sustentabilidade das empresas de saúde.

É inevitável que ela influencie também no papel de cada uma das categorias profissionais envolvidas na assistência à saúde. Com a enfermagem, uma das primeiras a abraçar essa “nova” missão, não é diferente. Uso o termo novo entre aspas porque registros históricos sugerem que algumas das questões que tanto discutimos hoje como prioridades dentro da segurança do paciente sempre foram preocupações na enfermagem.

Duas pesquisadores da Escola de Enfermagem da Universidade Detroit Mercy, nos Estados Unidos, conduziram um levantamento histórico muito interessante, mostrando a evolução desse conceito ao longo do último século. Ao analisar 1.085 artigos sobre enfermagem entre 1900 e 2015, elas apontaram o papel preponderante da enfermagem no desenvolvimento da segurança do paciente (1).

Evolução histórica

Entre 1900 e 1919, já se relatava a preocupação com a contagem de compressas e gazes em procedimentos cirúrgicos domiciliares, além de lesões na pele e risco de pneumonia para pacientes acamados. A “teoria dos germes”, em voga na época, levava a enfermagem a recomendar a seus profissionais a “esterilização” das mãos parq evitar a propagação de doenças.

Na década de 1920, com a descoberta da insulina, os artigos de enfermagem destacam a necessidade de cuidar da dieta dos pacientes. Na década seguinte, já se nota atenção à administração segura de medicamentos, com a recomendação de ler rótulos três vezes, usar etiquetas para identificar a dosagem , não interromper o profissional que estiver administrando medicação e identificar o paciente pelo nome antes de iniciar o processo.

Preocupação com broncoaspiração, prevenção de quedas e transporte adequado dos pacientes são temas que também aparecem ao longo das décadas seguintes – e que, ainda hoje, são muito atuais.

Planejamento

O papel histórico da enfermagem na evolução de práticas de segurança do paciente e as mudanças em curso hoje sugerem que função da enfermagem atualmente é mais estratégica do que nunca. Talvez, mais do que se prender em fazer diagnósticos de enfermagem, o papel da enfermagem seja o de planejar o cuidado, com foco na avaliação de riscos de eventos adversos, segundo o perfil e as necessidades de cada paciente.

Com essa mudança de perspectiva, a enfermagem se torna, mais do que nunca, não só um elemento essencial à saúde baseada em valor, mas a base do cuidado centrado no paciente.

Nas últimas décadas, a segurança do paciente tem se tornado um dos temas mais debatidos na área da saúde, afetando diretamente a qualidade da assistência prestada pela equipe de enfermagem. Aliás, a segurança do paciente representa um dos maiores desafios para a excelência da qualidade no serviço de saúde, uma vez que as condições de trabalho comprometem a qualidade do cuidado em todo o país, principalmente na Rede Pública de Saúde.

Diante disso, é fundamental refletir e debater sobre o papel dos enfermeiros na prestação do cuidado seguro ao paciente. Mas, por outro lado, é preciso destacar que todo profissional é passível de erros, ainda mais quando essa profissão envolve a realização de cuidados complexos, procedimentos invasivos e a permanência de horas a fio ao lado do paciente.

O enfermeiro na segurança do paciente

Visando melhorar a segurança dos pacientes em todo o mundo, a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomendou que sejam implementados pelos gestores de hospitais e clínicas as seguintes ações de segurança:

  • Evitar a ocorrência dos eventos adversos;
  • Torná-los visíveis, caso ocorrerem;
  • E minimizar os seus efeitos com intervenções eficazes.

É importante destacar que os eventos adversos são geralmente associados ao erro humano, mas que devem ser tratados como desencadeadores às condições de trabalho, aspectos estruturais e a complexidade das atividades desenvolvidas, tais como o avanço tecnológico com deficiente aperfeiçoamento dos recursos humanos, falhas na aplicação da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE), delegação de cuidados sem a supervisão adequada e a sobrecarga de trabalho.

No que se refere ao trabalho de enfermagem, os erros mais comuns a ele relacionados acontecem na administração de remédios; na transferência de paciente e na troca de informações; no trabalho em equipe e na comunicação; na incidência de quedas e de úlceras por pressão; nas falhas nos processos de identificação do paciente, na incidência de infecção relacionada aos cuidados de saúde, entre outros.

O Brasil implementou diversos programas e políticas como a Qualidade da Gestão e Assistência Hospitalar, a Política Nacional de Humanização (PNH), a Organização Nacional de Acreditação (ONA) e o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP) com o objetivo de contribuir para a qualificação do cuidado em saúde em todos os estabelecimentos de saúde do país, sejam eles públicos ou privados, segundo a prioridade dada à segurança do paciente pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Nessa perspectiva, o Ministério da Saúde incentiva os serviços de saúde a desenvolverem as seguintes ações de melhorias:

  • Identificar corretamente o paciente;
  • Melhorar a comunicação efetiva;
  • Incentivar a higienização das mãos;
  • Prevenir, controlar e notificar eventos adversos;
  • Reduzir o risco de lesões ao paciente decorrente de quedas;
  • Assegurar cirurgias com local de intervenção, procedimentos e pacientes corretos;
  • Administrar com segurança de medicamentos, principalmente os de alto-risco, sangue e hemocomponentes;
  • Reduzir o risco de infecções associadas ao cuidado da saúde;
  • Estimular a participação do paciente na assistência prestada e ações de prevenção de quedas e úlceras por pressão.

Fonte: IBSP / PEBMED